27 abril 2009

A claque feminina do Nacional da Madeira.

O Diário de Notícias publicou ontem uma reportagem da autoria de Lília Bernardes, sobre a claque feminina do Nacional da Madeira que não resistimos a transcrever dando assim oportunidade a quem não a leu no Jornal que a possa ler aqui:

"O DN acompanhou a claque feminina do clube nos jogos com o Braga e o Paços de Ferreira, no Estádio da Madeira. Senhoras, mães de família e empresárias, com idades entre os 45 e os 75 anos, discutem futebol e gritam. Insultam o árbitro, mas há regras. O desporto-rei é a melhor terapia, dizem.
"Rabo de senhora. Sua cadela. Anda seu boi. Bandeirinha, tu vais comer! Vai mas é cortar o cabelo. Ei pessoal! Bola no chão. No chão. Amo-te Nenê. Juliano, vira, ai, ai, ai, ai." Penálti. O Estádio da Madeira levanta-se. "Ladrão. Não é penálti Joãozinho. Vais ser morto hoje na Choupana. Gatuno. Seu filho da… seu mete nojo."
Bom, isto é uma amostra. A minha admiração começa aqui. Quem profere estas frases não são homens, mas senhoras empresárias, mães de família, com uma média de idades entre os 50 e os 75 anos, que se transformam, sofrem e divertem- -se ao ponto de não saberem as "asneiras que dizemos e as figuras que fazemos pelo nosso clube, o Nacional da Madeira", afirma, mais tarde, Luísa Jardim (60 anos), uma das figuras que integram a claque feminina, composta por 42 elementos. Quando entra a música da marcha dedicada aos "rapazes do Nacional" quem mais grita são as mulheres. E que gritos.
"Não lhe faz mal à tensão arterial todo este nervosismo?", pergunto. "Não, minha filha, venho aqui ver o meu Nacional de 15 em 15 dias. Deito tudo para fora e passo o resto da semana calma", responde. E sorri. Um sorriso matreiro, engraçado, autónomo. Depois tira um rebuçado da carteira, abana o cachecol e já sem olhar para mim afirma em alto e bom som "se eu estivesse acolá atirava-lhe uma pedra". Penso que não ouviu o que disse. Está em transe com os olhos colados ao relvado.
"Mas não devia estar em casa com os netos? O seu marido não refila?", insisto. "Deve estar a gozar comigo", responde. E vira a cara. A D. Maria José Rodrigues, como todas a chamam com grande respeito, e que conta com 73 anos, coloca as mãos fortes nos joelhos, inclina-se um pouco e "passa-se", de novo, com o árbitro. A sua voz junta-se ao coro de sons femininos emitidos guturalmente, fazendo lembrar as mulheres árabes quando se manifestam. Bebe-se muita água. As cordas vocais assim o exigem. No Inverno, quando há frio, trazem umas garrafinhas de ponche ou licor. Sentadas à frente da bancada da Imprensa, no lado leste do estádio, há sempre tentativas de oferta a quem está por perto. E toda a gente as conhece. A claque feminina, única no país, não está juridicamente organizada, mas funciona com regras. Os elementos pagam 10 euros por mês, fazem jantares trimestrais, viajam uma vez por ano com a equipa, têm um espaço próprio no complexo desportivo e exigem admiração pelos seus "meninos".
"Aqui não há apupos aos nossos. Mesmo que um jogador do Nacional faça alguma coisa de errado nunca o criticamos. Fazemos ao contrário. Apoiamo-lo. É isso que deve ser feito", diz-me. Mas Maria José está farta de perguntas. Quer ver o jogo. Depois, no intervalo, trocamos conversa. Os bombos estão prontos e irão fazer a festa do empate com o Braga. As mãos levantam-se e pegam no megafone. "Nacional" é a palavra que se repete sem cansaço. Desde 8 de Março de 1998, dia da Mulher, que assumiram que o futebol não é coisa de homens e o Nacional é o clube que escolheram. Algumas por herança paterna outras nem por isso. Há cinco irmãs, cujos maridos são do Marítimo, mas que não abdicam da convicção. Sim. É convicção.
"O futebol une as pessoas. Homens ou mulheres. Percebemos tanto disto como eles. Graças a Deus que esse tabu de que o futebol não é para as mulheres acabou. Os homens já aceitaram. Que remédio. Até temos uma visão mais abrangente do jogo. Chegou a altura de as mulheres serem comentadoras desportivas", diz Luísa Jardim.
O sonho era chegar ao Jamor, à final da Taça. Mas tudo morreu na meia-final, na quarta-feira, com a derrota frente ao Paços de Ferreira."

Fonte: Diário de Notícias

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