13 novembro 2007

"Isto já não tem nada a ver com o futebol..."


Deixamos aqui um artigo de opinião do colunista António Tadeia do jornal O Jogo, relacionado com os acontecimentos em Itália do passado fim-de-semana:

"Clarence Seedorf, um dos mais sensíveis futebolistas do campeonato italiano, um dos poucos jogadores de futebol com preocupações sociais, recusou-se no domingo a usar a braçadeira negra em sinal de luto pela morte de Gabriele Sandri, "tifoso" laziale atingido inadvertidamente por um polícia após uma rixa numa estação de serviço perto de Arezzo. Não foi despeito do holandês, não foi sequer uma provocação aos ultras da Atalanta, que forçaram a interrupção do jogo com o Milan através de uma tentativa de invasão de campo. "Isto não tem nada a ver com o futebol", disse Seedorf após os sete minutos que se jogaram em Bergamo. Os incidentes que se seguiram, já de noite, sobretudo em Roma, deram-lhe razão.
A explicação mais fiel do que sucedeu - mas também do que está na origem do problema - deu-a ao diário "La Stampa" Marco, trabalhador-estudante de 19 anos que conduzia a Renault Scenic na qual faleceu Gabriele, sete anos mais velho. Um grupo de amigos viajava em direcção a Milão, onde pretendia ver a Lázio defrontar o Inter; outro fazia o percurso entre Turim e Parma, para seguir a Juventus. "Estávamos no parque de estacionamento da estação de serviço, íamos voltar à estrada. Estávamos dentro do horário, não havia pressa nem tensão. Passou um Mercedes com cachecóis brancos e negros. Insultámo-los, provocámo-los um pouco, mas acabou ali", diz. Depois, o carro arrancou e Gabriele, que estava no lugar ao lado do condutor, foi atingido com um tiro, que o polícia que o disparou disse ter saído por acidente da sua arma, enquanto corria, depois de ter atirado conscientemente uma vez, mas "para o ar".
Vão multiplicar-se as análises sociológicas. Umas condenarão a doença do futebol, as claques, ignorando mesmo que aqui não houve claques: houve, sim, dois grupos de amigos que acham natural insultarem-se e seguir com a sua vida simplesmente porque adoram emblemas diferentes. Outras virar-se-ão para o lado do polícia e da facilidade com que os agentes da autoridade disparam, da falta de respeito que isso implica pela vida alheia. Têm todos razão. Num Mundo onde o ódio ganha espaço, cada vez mais a polícia dispara primeiro e pergunta depois. Ao mesmo tempo, a cultura desse ódio já é tão natural no futebol que os adeptos se insultam como noutros tempos diziam "Bom Dia". Diminuem o outro em vez de enaltecerem as suas cores. Por isso, por muito que queiram convencer-me do contrário, creio que as tentativas de invasão de campo, de assalto a esquadras e à sede do Comité Olímpico Italiano por bandos de "ultras" não foram a favor de Gabriele. Foram, isso sim, contra a polícia, contra os dirigentes, contra todos os que mandam em alguma coisa e por isso podem ser responsabilizados por tudo o que nos corre mal. Se não se importarem, prefiro a versão de Seedorf: isto já não tem nada a ver com o futebol - é um mal social."

Fonte: O Jogo

2 comentários:

Anónimo disse...

se calhar nao vais a bola nao levas nos cornos nem sentes o que é s repressao policial.!! por isso e k preferes a versao dos factos referidos pelo seedorf.!!!!!! nao te enterres a ti propria isto nao e uma critica mas uma mera opiniao.!

Anónimo disse...

as unicas palavras que encontro apos este tragico acidente so podem ser A C A B, para quem não saiba é o unico movimento que junta todos os ultras na luta contra a exagerada força policial,graças a deus que somos um pais de breves costumes,por isso a acção de hooliganismo aqui só em caso extremo,mas já se vão vendo alguns capos a irem a bola sem adereços clubisticos para ninguem os sentir...na polonia ou russia estes actos contra a policia são.....normais.....preocupante!!!ha que tomar medidas de prevenção e não de repressão....o futebol pode e deve ser uma festa....