24 novembro 2005

A opinião de um ex-deputado da nossa praça sobre claques.

"O Estado, os clubes e as claques

...Para além da tolerância estatal em matéria de dívidas, irregularidades dos bingos e outras práticas condenáveis,assiste-se a uma complacência prolongada e inadmissivel no que se refere a existência e actividade das chamadas claques futebolísticas. Depois do que aconteceu na final da Taça de Portugal, o Estado tem de rever drasticamente a sua relação com os clubes e, de forma muito concreta, o modo como tem sido enquadrada a actuação das claques

Não é admissivel que o Estado continue a ignorar esse fenómeno degradante da actividade desportiva, que é a existência organizada de espectadores- em nucleos apadrinhados pelos clubes -cujo comportamento se orienta pela histeria colectiva, o apetite pela violência e, nomeadamente, pela tendência para manifestações tribais e selvagens, de tipo nazi e fascista, contra os adeptos dos clubes adversos. O minimo que o Estado pode fazer contra isso é responsabilizar directamente os clubes pela segurança dos respectivos estádios e o comportamento dos seus adeptos, como acontece em outros países da Europa em que o "hooliganismo" assumiu proporções preocupantes. Mas é provável que isso não seja já suficiente em Portugal, onde a capacidade de controlo e enquadramento da selvajaria nos estádios se depara com a impotência e falta de meios das forças de segurança.

Há, então, que ter coragem para levar a cabo uma coisa muito simples: cortar toda a espécie de subsidios, vantagens e "tolerâncias" aos clubes que não extingam desde já, formalmente, as suas claques, proibindo-as de utilizar instalações e de recorrer a facilidades de transporte e acesso a lugares nos estádios.

Para além de outros motivos, o predominio das claques sobre a assistência aos jogos de futebol tem contribuido, em larga medida, para afugentar os espectadores que apenas pretendem desfrutar o prazer do espectáculo ou manifestar de forma calorosa mas civilizada o apoio à equipa do seu coração. A histeria das claques não suscita apenas problemas de segurança e de criminalidade encapotada no anonimato colectivo das bancadas. Tornou-se já um pretexto para a extravasão de instintos selvagens que ultrapassam a identificação afectiva com os clubes que se defrontam no campo."

Vicente Jorge Silva
in o Público

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